Não era mais uma carta pro Papai Noel.

Pesada, fria. É como se cada mínimo movimento fosse fazer partes do meu corpo despencarem. Como se cada movimento fosse derrubar as paredes que contruí a minha volta. Um toque. Calor, dor. Uma sensação que não consigo distinguir. Outro toque. Cada um uma sensação. Alguns eu não quero, mais não posso me mover, as paredes estão começando a ruir, elas vão cair a qualquer hora e eu não posso deixar. Sem as paredes eu voltaria a sentir, a amar. 
Lampejos.
"Tem alguém rolando no chão frio, lágrimas caem pelo seu rosto, vejo um telefone jogado de lado e as lágrimas que não param de cair. Ela não consegue se levantar, eu quase posso ver o buraco que a pouco abriram em seu peito. Aos poucos, ela adormece. Lágrimas ainda caem de seus olhos. Me lembro disso, meu quarto, meu antigo celular, meu pijama listrado. Aquela sou eu, a anos atrás."
Estremeço.
Não posso deixar acontecer de novo. Eu queria amar, gostar de alguém novamente mais eu não posso, as paredes me protegem; elas tem que continuar de pé mesmo que isso signifique a dor de algumas pessoas que cometem o pecado de gostar de mim. Outro toque, recuo, meu braço pesa. As vezes tenho vontade de mandar todas as pessoas irem pra longe de mim, vontade de gritar. Não gosto de alguns toques, são quentes. Gosto do frio, de ser fria. Tenho que manter as paredes. 
Choro, mas dos meus olhos já não sai mais nada.
Choro por dentro.
Choro com a alma.
Choro pela dor que causei.
Choro pelo medo que tenho de sofrer mais uma vez.
Choro por admitir que tenho medo.
Choro por não conseguir sentir.
Choro por não ter coragem de deixar que as paredes caem.
Sorrio. 
Sorrir dói. É falso.
Vou embora. Olheiras, cansaço. Tento dormir, não consigo. Leio, até as 3 da manhã e adormeço. Acordo cedo, já não durmo mais como antes. Me lembro do que sonhei; levanto, e já esqueci. Estou pesada, faz frio. Mais um dia, mais toques, mais pessoas, mais sensações, vez ou outra um sorriso, as vezes até sincero. Mais frio. Gosto do frio.